quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Memórias coloradas: Gigante de Ébano

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Crônica enviada pelo colorado Remaldo Carlos Cassol, de Caçapava do Sul.

Velho estádio dos Eucaliptos. Tarde com forte neblina  e campo enlameado. O vento forte balançava os galhos das inesquecíveis árvores que davam nome popular ao estádio Ildo Menegheti. Pareciam bandeiras tremulando, como a chamar torcedores para os lugares que ainda sobravam nas arquibancadas. O jogo era contra a equipe do Renner que há pouco havia se sagrado campeã Gaúcha. O Internacional vinha com sua tradicional equipe da época, com vários craques, Larri, Bodinho, Oreco e outros. Embora o tempo não fosse o melhor para a prática do futebol, como sempre, ia ver o meu Colorado. Minha tia morava ao lado do estádio, o que facilitava tudo para mim.

Os times entram em campo saudando seus torcedores, a maioria vestindo vermelho e branco. O juiz dá o apito inicial. Já nas primeiras disputas de bola a lama levantava enlameando os jogadores. O jogo parecia encaminhar-se para disputas violentas. três minutos do início do primeiro tempo, Florindo, zagueiro forte e compenetrado, em um lance com Raimundo avante do time do estádio “Waterloo”, agride-o violentamente. Sem pestanejar o juiz o expulsa, ficando o Internacional com dez homens em campo. E o pior: não havia substituição. 

Florindo vai ao vestiário, e depois sobe para sentar-se nas cadeiras das sociais. Alguém lhe pergunta: "que horror, nos deixou mal, que houve?" Ele coçando sua verruga no rosto com um olhar cabisbaixo e respondeu:

- Meu filho morreu esta noite. O seu Teté, nosso técnico, não permitiu que eu ficasse no velório – baixando a cabeça, triste e arrasado. Estava perdoado.

Cinqüenta anos depois o Inter com seus veteranos veio jogar em Caçapava do sul. Entre eles, o Gigante de Ébano. Sempre solicito e agradável. Chamei o ex baque central para um lado e contei esta história pedindo a sua veracidade. Ele pensou e imediatamente respondeu que sim, que era pura verdade.

- Florindo, quem estava ao teu lado nas cadeiras e te cobrou por aquela atitude fui eu.

Ele me olhou demoradamente e, admirado, foi contar a historia aos seus companheiros. Lembro que os atletas ficaram em silêncio. Somente o Elton falou, “como o seu Teté era durão!”

E nós torcedores só queremos ver futebol e vitória. Pouco nos lembramos que estes profissionais podem levar junto ao campo alegrias e angustias como qualquer ser humano tem dentro de si.









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